segunda-feira, 16 de agosto de 2010


Subimos no trem e tínhamos nossas “caminhas” reservadas. Pra falar a verdade, se alguém que fez a ferrovia transiberiana te disser que foi uma experiência difícil, que teve que dormir desconfortavelmente no trem, que a viagem é cansativa e etc, não acredite! É pura balela! Foi fácil enfrentar as 12 horas de viagem entre St. Petersburgo e Moscou, você simplesmente deita na “caminha” e dorme! Infelizmente eu dei azar com a minha cama, ela ficava no alto e em uma posição que o vento (por mais aberta que a janela estivesse) não chegava até mim.. Lembre-se que nesta época a Rússia está enfrentando ondas de calor.. Muitas vezes eu me lembrava daqueles filmes da segunda guerra com trens levando pessoas pro campo de Auschwitz.
Mas legal, tá no inferno, abraça o capeta. Achei legal que as pessoas não tinham pudor quanto a se trocar pra por um pijama, camisola, ou algo do tipo. Os viajantes se trocavam na nossa frente, das mais diferentes faixas etárias. Homens andando de cueca pra lá e pra cá, mulheres de camisola e ninguém nem aí!
Na cabine onde estávamos havia 6 “caminhas” e ficamos juntos com uns jovenzinhos, que estavam em Peter pra um curso de reciclagem profissional. O fato de sermos brasileiros os encantou e, pra falar a verdade, aquilo estava começando a dar no saco. O menino que nos “descobriu” parecia ter um orgasmo a cada 5 minutos. Tudo que ele falava vinha pontuado com uma risada misturada com engasgo e empolgação.
Pra começar, tivemos que mostrar nossos passaportes pra todo mundo pra provar que éramos brasileiros. Não preciso dizer que o passaporte do Fernando fez sucesso (devido aos 4 nomes que ele tem), eles simplesmente ficavam bobos com a quantidade de nomes! Dizem eles que nomes grandes parecem nomes de nobres, ou que lembram muito os nomes de novelas mexicanas (“não acredito em você, Paloma Roberta! Você me destruiu, Gustavo Peterson!”).
Mas enfim, passada a excitação coletiva, dormimos e chegamos em Moscou!
Chegando lá, aí foi o baque! Porque russo é mais ou menos assim.. Sabe aquela senha de letras misturadas com números que o teu provedor de internet discada te dava? Então, escreva esta senha e coloque em frente a um espelho. O que você vê no espelho é cirílico, ou o alfabeto russo!
Na estação de trem, ninguém falava inglês. Nada de placas em inglês. Apenas setas e cirílico, muito cirílico! Pra chegarmos ao metro (que ficava 100 metros da estação de trem) demorou meia hora! Nossa sorte é que encontrávamos algumas pessoas que entendiam um básico de inglês, como right, left e etc!
E beleza, subimos no metro e, para nossa surpresa, acertamos de primeira os rumos para chegar à casa de Max (nosso couchsurfer de Moscou). Chegamos la e, que surpresa, Max falava português perfeitamente e quase sem sotaque! E, vamos combinar.. Numa cidade que tem tudo em cirílico encontrar alguém que fala português dá um alívio tremendo!
Max aprendeu português simplesmente por gostar do Brasil, nunca freqüentou aulas de português. Diz ele que aprendeu tudo pela internet! Já esteve no Brasil e adorou la! Hoje ele trabalha na Microsoft e pode escolher os dias que vai trabalhar!
Ele morava bem afastado de Moscou, como a distancia entre o metro Jabaquara e a Sé, por exemplo. Mas pagava caro no aluguel, e como pagava. Deu pra ver MESMO que Moscou é uma das cidades mais caras do mundo. Ele mora num prédio, mora com um amigo e divide quarto com este amigo. Paga 1000 dólares só por isso.
E logo depois saímos pela cidade! Estávamos bem cansados, mas ele já tinha combinado nos apresentar para as duas Irinas (foto acima)! Então, seguimos para a praça vermelha e de lá fomos para o Mc Donalds do Kremlin (pasmem, tinha detector de metais na porta!). Não sei se foi uma decepção para eles, mas o fato de sermos branquelos e parecermos mais europeus que brasileiros chamou a atenção deles!
Pessoal muito simpático e bem curioso quanto à vida no Brasil! Realmente, Brasil cai no imaginário exótico do povo europeu! Fico cada vez mais convencido que o imaginário europeu projeta no além mar as imagens do paraíso e a redenção da tristeza que tem o velho mundo.. Sábio foi o Chico Buarque ao escrever..

“Não existe pecado do lado de baixo do equador
(...)
Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar.
Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá
Vê se me usa, me abusa, lambuza
Que a tua cafuza
Não pode esperar

Não ouvia as perguntas com desdém, entretanto. Eu estava muito curioso pra saber que imagem o Brasil tem para os russos.
A primeira pergunta “Que animais de estimação vocês tem? Vocês têm macacos pelas ruas e casas?” Bom, eu salientei que meu caso era uma exceção da exceção da exceção da regra. Eu tive vaga lume, tartaruga, lesma, coelho, galinha, pintinho, cachorro, gato, lebre. Minha irma tinha um ganso! Eu tinha um pé de café em casa, quem tem pé de café em casa? Mas enfim, infelizmente não temos macacos pelas ruas no Brasil.
„É como Cidade de Deus? O quanto de verdade tem o filme?“Bom, eu expliquei que o filme tratava da época da inserção da cocaína no mercado carioca, da formação de guetos, do desenho do tráfico de drogas como atividade principal (e não mais como atividade complementar que era com a maconha) e etc. Mas enfim, dei vários rodeios e não respondi a pergunta. Eu não sei se, HOJE, a realidade nas favelas é como no filme. Acredito que seja outra, talvez mais parecida com o “Tropa de elite” ou como “Falcão”. O que é verdade é que a realidade do Rio é sui generis e eu expliquei com base nas minhas experiências. Eu expliquei que os problemas ficam de certa forma “contidos” nas favelas e que, hora ou outra, eles escapam e atingem a “high society”. Não sei se estou certo.
Também perguntaram do custo de vida, como são as Unis, o que tem pra fazer na noite, se todo mundo no Brasil é “moreninho” ou é branquelo como eu, se a gente já tinha ido para a Amazônia, se ainda tem índio por lá, se tem metro em São Paulo, porque a gente não jogava capoeira, não jogava futebol e não dançava samba, se no carnaval todo mundo trepava com todo mundo.. Mas foi legal, ambas disseram que brasileiro é bem visto na Rússia e que é um povo muito feliz!
Da minha parte fiquei bem curioso quanto à história de uma das Irinas. Irina 1, como chamávamos, tinha família Armena e fugiu para a Rússia para escapar do genocídio que havia na época. Infelizmente ela não nos deu maiores detalhes!
De lá fomos andar pela cidade, voltamos ao Kremlin, visitamos uma catedral ortodoxa, passamos pelo rio Moscou. Foi legal que, numa passagem (ponte) sobre o rio moscou, havia muitas árvores de metal, onde recém casados iam pendurar cadeados simbolizando o matrimonio. Fico pensando naqueles que se divorciam 10 anos depois indo lá procurar o cadeado pra liberar o espaço... Qual será o lugar que eles guardam essa chave?

Depois de muito cansaço fomos para a casa do Max. Depois de um banho gelado, uma compra irrisória no supermercado (mas com um valor altíssimo) e um narguilé, fomos dormir!

Até a próxima!

3 comentários:

  1. morri de rir com seus relatos!! kkkk em breve vou pôr um selinho pra vc no meu blog( quando puser te aviso),. Vai se acostumando com os selinhos pq faz parte do mundo dos blogueiros... rsrsrs!! bjs daqui do Brasil
    ps: verei a Cintia e o Dani em breve, eles irão no meu aniversario em Araras :-)

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  2. meu deus! como e? todo mundo se trepa no carnaval??! :) //max/

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  3. Pus selinho pra vc no meu blog. Vai se acostumando, pq depois que virou blogueiro, é uma das formas de manter contato com outros blogueiros e fazer social por aqui.. hehe!! qqer duvida sobre o selo me pergunte... bjs

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