quinta-feira, 17 de março de 2011

“Não, eles não tem democracia. E eles também não precisam.”

Foi o que um professor nos disse durante uma aula sobre democracia vs. Emirados Árabes Unidos. Para este professor, não existe demanda por democracia nos Emirados Árabes, já que o xeique é um homem virtuoso e atende às demandas da população sem que ela se faça por requerente..

Depois de horas brigando com a burocracia do aeroporto, encontramos um táxi pra nos levar embora. O taxista, muito empolgado por estar levando brasileiros, começou a contar sobre a vida em Dubai.. Eu, meio sonolento e sem muita vontade de papo, soltei:

- “o Xeique deu um calote esses tempos atrás, né? Depois disso as coisas ficaram um pouco ruins, não?”

E o taxista respondeu:

- “Sim, é verdade, as coisas ficaram bem piores depois disso. A inflação disparou, muita gente voltou pros seus respectivos países. Eu mesmo tenho feito poucas corridas depois da crise”.

Eu continuei quieto, na esperança que ele fosse reclamar de mais alguma coisa.

- “Eles são puristas. Nunca vão dar a nacionalidade dos Emirados para imigrante. Eu tenho que renovar meu visto de trabalho de tempos em tempos. Mão de obra barata eles querem muito.. Você tem que ver no verão.. não sei se você sabe, mas isso aqui é no meio do deserto.. Isso aqui no verão chega a 60°C (eu duvidei, mas continuei calado). Os indianos, filipinos, todos os imigrantes que trabalham na construção civil, tem que trabalhar 14 horas por dias sob sol escaldante..

E eles moram dentro de containers de metal.. Demanda por prédio vai sempre existir por aqui”.

Finita a corrida, pagamos os olhos da cara por um trecho estúpido, mas só descobrimos nossa estupidez no dia seguinte, quando andamos de táxi comum. Aliás, se tem uma coisa que eu tenho detestado nessa viagem é a necessidade de barganhar.. Pra tudo tem que negociar, fazer caras e bocas, resmungar, ouvir a história do pai de família com câncer no cérebro, tendo que sustentar a esposa aleijada e com insuficiência renal, já que o rim parou de funcionar no 16°parto do filho com deficiência mental. Eu particularmente sofro mais um pouco, já que não tenho o brazilian look alike e todo mundo acha que sou um americano ou um alemão louquinho pra torrar dólares. E você nunca sabe qual é o preço justo. Nos Emirados Árabes eles dobravam o preço pra mim. Na Índia eles decuplicavam. No Nepal eles aumentavam uns 50%. Aqui no Bangladesh eles duplicam os preços de vez em quando. Sempre me falaram que a Emirates era a melhor companhia aérea e que o serviço deles era insuperável, e de fato é. Em um dos vídeos promocionais dos Emirados Árabes que passavam no avião era bem enfatizado o aspecto “a menor burocracia do mundo.. onde tudo é descomplicado..” Leve ilusão, pelo menos no aspecto “brasileiro-viajar-sem-visto”. Chegamos lá por volta da uma da manhã, visitamos 6 departamentos do aeroporto, enfrentamos 4 filas (duas vezes uma mesma fila) e pagamos taxas em dois lugares diferentes. Saímos de lá beirando 4 da manhã.. E que deprimente pra quem é indiano, paquistanês ou de algum lugar fornecedor de mão-de-obra barata pros Emirados Árabes. Eles tem que passar por um scanner de retina, fazer agachamento, entrevista..

No dia seguinte fomos ao Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo (828 metros)! A entrada é dentro de um shopping, onde eles vendem o At the Top Experience, um conjunto de efeitos visuais, maquetes, e acesso ao elevador recordista de velocidade (64 Km/H, se eu não me engano).

O povo dos Emirados Árabes é extremamente diverso, se diz por lá que existem mais de 100 nacionalidades morando em Dubai. E os nacionais são extremamente simpáticos! E falar a palavra Brasil facilitou muito as coisas por lá, mas o assunto foi a tristeza de muitos pela aposentadoria do Ronaldo.A vista é realmente incrível, se entende perfeitamente o termo “erguer a cidade no meio do deserto”. De cima só da pra ver as ilhas em forma de mapa mundi e aquele hotel 7 estrelas. A ilha-palmeira não dá pra ver!

Sempre quis ter uma cafia (aquele pano árabe preso por uma tira) e comprei uma para mim. Minha intenção era somente me proteger do sol, mas aquilo acabou chamando muita atenção por onde eu passava.

As pessoas tinham diferentes reações ao ver a gente com a cafia, metade ficava olhando, metade apontava o dedo e ria.. Mas boa parte deles nos cumprimentava e tentava puxar papo, como se nossas cafias fossem um sinal de aproximação com a cultura árabe.. Mas eu sinceramente acho que paguei o papel de ridículo.

Fomos também ao tão famoso Gold Souk, o mercado de ouro que encanta mães do mundo inteiro. O assédio ao turista é grande, mas não é como na Índia - é bem suportável. Não faltagente querendo te pagar uma coca cola, uma sprite ou uma água. O preço do ouro por la girava em torno de uns 60 dólares a grama, mas barganhando dava pra chegar a uns 45.. Dizem eles que o que encarece bastante o ouro é o trabalho feito nele.. Claro que eu não comprei absolutamente nada. Interessante: eles preferem o ouro 22 kilates, aquele mais amarelo-ovo.. Ouro de má qualidade é chamado de ouro brasileiro (segundo um amigo meu sírio).

No dia seguinte fomos ver a ilha palmeira e pegamos um metrô até a proximidade. Nós tivemos a idéia inicial de chegar la de metrô e andar a pé pela ilha, já que pelo mapa não é uma grande distância. Ao descer na estação de metro, os taxistas ali parados não entendiam o nosso plano e faziam sinais de que éramos loucos.

Eles não entendiam porque não íamos de taxi, já que era tão barato. Começamos a andar... e andamos... e andamos... chegou uma hora que viadutos passavam em cima de viadutos, pontes em cima de pontes, bifurcações seguidas de bifurcações. Definitivamente não dá pra ir pra ilha a pé. Fomos salvos por um taxista perdido no meio do nada.

Sinceramente, andar a Ilha Palmeira não vale tanto a pena, porque andando por lá não dá pra ter noção nenhuma que aquilo é uma palmeira.. Aquilo é apenas um condomínio fechado..

Gostei de ter conhecido Dubai.. Uns dizem que é Las Vegas sem cassino, outros que é a cidade do futuro.. Algo bobo mas que me marcou muito foram as seguidas estações de metrô com nomes fazendo referência a dinheiro.. "Estação Business", "Estação World Trade Center", "Estação Centro Financeiro", "Estação Shopping Center", "Estação Vamos-fazer-negócios", "Estação Oi-vamos-fazer-um-investimento?", "
Estação Lucro-Lucro-Profit", .......

Por enquanto é isso! Até o próximo post!