quinta-feira, 29 de julho de 2010


Relato parte 2!

Pois é, continuando o relato com o maior numero de detalhes possíveis! Esqueçam acentuação gráfica, ora meu teclado faz, ora não faz.
Acordamos bem cedo no dia seguinte, seguimos primeiro para o Museu Dostoievski e depois para o Museu da História Política da Rússia. Dostoievski era cerca de 4 quadras da casa de Andrey e era bem fraco, pra falar a verdade. Não dava pra exigir muito, 70 rublos (1,50E) foi o que pagamos.
Decepcionados com a falta de informações em inglês e o factualismo do museu de Dostoievski, seguimos para o Museu de História Política da Rússia. Único probleminha que tivemos foi que desprezamos a distancia entre a casa do Andrey e o Museu. Duas horas caminhando sob sol intenso (lembrem-se que a Rússia está registrando recordes de temperatura exatamente na época que estamos lá) ganham intensidade de 4 tranquilamente! Após paradas em vendinhas tentando explicar que queríamos comprar água sem gás, chegamos cheio de expectativas ao Museu de História Política da Rússia. Minhas expectativas eram grandes: saber o outro lado da história, como as duas grandes guerras são vistas pelos russos, bem como o Socialismo/Comunismo.
O status de estudante nos deu um ingresso bem baratinho, acho que menos de 4 euros. Por outro lado, fiquei ressabiado com o preço do ingresso vs. qualidade do museu, haja vista a experiência com Dostoievski. Entramos. Pra minha surpresa o museu tinha um número razoável de informações em inglês. Entretanto, conforme o museu ia avançando, percebemos que ele não tinha uma visão crítica sobre a história.. Sei lá, depois do alto nível do Museu do Terror em Budapest ficou covarde comparar museus por aí..
O museu apresentava tão somente fatos, como “objetos da cesta básica comunista”, “chapéu de Yury Gagarin”. Não sei se estou certo ao criticar o museu por ausencia de informações, talvez elas até existissem, mas estavam em russo, e existia uma diferença gritante no número de informações em russo e em inglês (um parágrafo em russo e sua corresponde em inglês com uma frase). Mas não deixou de ser interessante! O museu também não tinha um período de tempo bem delineado, acredito que estava grande demais.. Por exemplo, caí na falha de dedicar muito tempo às primeiras salas (que falavam da monarquia russa) ao invés do período do comunismo (que eu me interesso mais).
Mas coisas legais que o museu fala: Inimigos públicos eram presos e mortos, ok. Esposas eram automaticamente presas,... Por quê? Porque elas não tinham delatado seus maridos. Filhos até 15 anos seguiam pra custódia do Estado, maiores que 15 eram decididos caso a caso.
Um homem foi morto por desenhar uma bandeira dentro da prisão, acusado de conspiração (foto da bandeira está no Orkut).
Uma situação engraçada, Fernando caiu no pecado de sair tirando fotos do museu, mal sabia ele que uma agente da KGB vigiava todos seus passos.. Ele levou uuuuuuma comida de toco uma hora huahuahuahuahuahuahuauha! Ficou sem graça o museu inteiro!
E eu então, fui tirar foto de uma cela e me aproximei demais da corda.. Não é que o negócio dispara e todos os guardas vêm até mim achando que eu tava roubando alguma coisa? Uahhauhuauhahuauha!
Mas enfim, a opinião que a gente tem dos russos sobre esses períodos a gente colheu em conversas. Me pareceu estranho a ausência de opinião nestes museus, seria meio clichê eu dizer que o museu foi “censurado”, que os russos não querem difundir o que eles pensam, ou etc. Acho mais plausível que o museu não tinha tantos recursos e não tinha razão em adaptar-se a estrangeiros.. Lembrem-se que a regra de vistos ainda vigora para muito outros países!
Saindo de lá fomos sentar em um parque... Me pareceu estranho um cara que ficava rodeando a praça onde estávamos sentados. Logo alertei Fernando e saímos em direção ao Metro.
Chegamos em casa cansados e, nessas horas, o couchsurfing pode ser um pouquinho incomodo! Andrey não era turista e não tinha andado por Peter o dia inteiro e estava cheio de energia. Nós, os hóspedes, estávamos muito cansados, mas tínhamos que fazer um socialzinho.. Fernando tentou dar um relato sobre o que tínhamos feito ao Andrey, mostrou uns pôsteres russos (de propaganda) que tínhamos comprado e que tinha se interessado muito. Andrey, como bom anfitrião que era, se sentiu na obrigação de mostrar a coletânea de pôsteres produzidos por todas as republicas soviéticas desde 1921 até 1989 e explicar o que cada um dizia UM A UM. Ahuhuahuahuahuahuahuahu! Fernando ficou uma arara comigo pq eu dormi por essa 1,5 hora e não fiz sala com ele! Virou um assunto maldito! Ahuahuahuahuahuahuauhahuahuahua

No dia seguinte saímos para andar em Peter e visitar as últimas coisas que nos restavam! Fomos ao Forte de São Pedro e São Paulo (tem uma estátua polemica que retrata Peter como uma pessoa de cabeça pequena..). Logo depois fomos encontrar Andrey, que queria apresentar um amigo chinês/brasileiro que morava em Peter. Fomos comer panquecas de creme de cogumelo, muito boas por sinal.


- A partir deste momento da viagem começa a minha dor de barriga e a do Fernando, que só vai terminar 14 dias depois, em Osnabrück. –

Já comecei estreando o banheiro da lojinha de panquecas. Ainda bem que seguimos a recomendação de um site da internet de andar sempre com papel higiênico na mochila.
No caminho Andrey encontra uns amigos da faculdade, que de tão maravilhados com o fato de sermos brasileiros, resolveram nos acompanhar pela cidade (e aproveitar da nossa popularidade).

De lá seguimos para a estação de trem, para comprar nossos tickets para Moscou! Pra quem tá acostumado com os padrões alemães o que vimos foi no mínimo estranho. Na Alemanha vamos a um caixa eletrônico e em menos de 30 segundos temos nossos tickets na mao. Tudo automático. Na Rússia, filas gigantes e pessoas que desafiam aquela lei da física sobre corpos e espaços. Ao chegar à fila, chega imediatamente uma mulher dizendo que ela está naquela fila, mas que ela não está, entendeu? Aí ela sai fazer as coisas dela. E ela pode passar o lugar dela (que ela está e não está) pra outra pessoa a bel prazer. E as filas são gigantes e demoradas! Vocês acreditariam que os russos precisam mostrar o passaporte para viajar dentro da Rússia (do contrário não viajam?)? Pois isso acontece..

Tickets comprados, hora de seguir o passeio. O que estaria para acontecer neste momento seria um indicativo pra toda a viagem: Ser brasileiro é hype. Brasil tá na moda. Todo mundo quer consumir a cultura brasileira. Todo mundo quer jogar capoeira. Todo mundo quer falar português. Todo mundo quer aprender a sambar. Todo mundo ouve Bossa Nova e Samba. Todo mundo é saudosista da Рабыня Изаура (isso é ESCRAVA ISAURA em russo, acredite!).
A gente, pra não fazer feio, falava do Dostoievski, Pushkin, TATU (isso, all the things she said.., lembram-se?)
A Escrava Isaura foi assunto durante a viagem toda. Lucélia Santos que me perdoe, mas eu realmente não conheço absolutamente nada da história. Lóóóóóóógico que na Rússia eu virei um expert em escrava Isaura, até análises baktinianas e freudianas eu fazia sobre a personagem. Mal sabe a coitada que ela projetava a figura paterna no Leôncio e que tudo que ela mais queria na vida era voltar pro útero materno.
Mas enfim, voltando ao Andrey.
O povo fazia muito fusquinha com a gente, brasileiro é ser exótico na Rússia. Eu gostei de ter tido essa experiência, me lembrei muito de quando recebi Alex e Anne em Rio Claro! Claro que isso nos rendeu ótimas experiências! As pessoas se predispunham a solucionar nossos probleminhas, a nos guiar pela cidade e contar a história das coisas e ótimas conversas sobre política (mundial e russa).
Estava muito quente e nós estávamos com muita fome e muita sede! Entretanto, já sabem, os hosters nem imaginam que os convidados também são humanos! Nessas horas não temos muita opção, só nos resta acompanhar!
Andrey nos levou ao bar da faculdade de Peter (algo como o “Fish” (franca) ou o “Sujinhos” (rio claro)). Não havia quase ninguém la, já que era época de férias.
Seguindo para casa, fomos conversando sobre atualidades na Rússia, percepções sobre comunismo/capitalismo, diferenças entre gerações e etc. Essa parte, preciso dizer, foi surpreendente.. Vou tentar me lembrar de todos os detalhes..
Primeiro.. Uma semana antes de chegarmos em Peter houve um protesto dos estudantes contra a polícia (hoje a polícia funciona no mesmo prédio da KGB). Um tanto inusitado..
Saca essas pontes que se elevam para que os navios passem? Então.. elas ficam eretas, né..
Tem algum outro membro humano que tem a capacidade de ficar ereto? Pois bem, do anúncio de fechamento da ponte até os preparativos para erguê-la há 3 min e 40 seg. Assim, os estudantes treinaram por um certo tempo “como desenhar um pinto de 40 metros em 3m40s.” Eu mijei de rir quando vi as fotos, imaginar um falo gigante possível de ver de toda São Petersburgo é impagável! Quem tiver interesse, vale à pena:
http://www.youtube.com/watch?v=KIFZ41P6kfw

Andrey tinha boa formação superior, mas nos assustou o fato d’ele ser desinformado quanto a algumas coisas. Fernando e eu cogitamos a possibilidade de uma educação “distorcida” na Rússia... Ele nos disse que apenas uma ou duas cidades na Alemanha tinha sido totalmente destruída na Segunda Guerra Mundial (Grande Guerra Patriótica no vocabulário russo). E, pra quem tá há 1,5 anos na Alemanha sabe que isso não é verdade.. Osnabrück, onde moro, foi totalmente destruída na guerra.. poucas coisas ficaram de pé.. Isso sem falar de Hamburgo, Nuremberg, entre outras.

Outra coisa, Andrey nos disse que durante a transição URSS – Rússia havia um caos generalizado na Rússia com ondas de saque, ausência de autoridade, províncias se rebelando, etc. E o governo o que fazia? Colocava “O Lago dos Cisnes” passando o dia inteiro na TV de forma ininterrupta..
Uma frase que ele me marcou foi a seguinte.. “Olha, se hoje eu estivesse vendo TV e de repente começasse a passar “O Lago dos Cisnes” eu iria prontamente me trancar em casa, procurar um abrigo nuclear ou me matar. Todo russo sabe que, se estiver passando Lago dos Cisnes na TV, certamente tem algo muito grave acontecendo.” Existe até meio que uma brincadeira entre os russos com referencia a esse episódio... é como um ditado popular fazendo alusão a uma desgraca acontecendo e todo mundo alienado com a situação!

Andrey também nos disse o que as pessoas pensam dos tempos comunistas (argumento que seria repetido novamente por outras pessoas em Moscou). De fato, muita gente (talvez a maior parte dos mais velhos) sente falta dessa época e trocaria o sistema facilmente. Desilusão c/ a democracia/capitalismo, liberalização do sistema de bem estar social (primeiro liquidaram a saúde, depois liquidaram a educação e agora estão liquidando as aposentadorias) são os fatores que mais influem neste tipo de pensamento. As comparações são inevitáveis, “naquela época tínhamos remédios, saúde pública de boa qualidade, educação superior de altíssimo nível (para todos), o dinheiro sobrava... Hoje estamos sendo liquidados pouco a pouco e importamos essa cultura americana plástica e fútil.”

A ânsia militar russa, pelo contrário, parece não ter sofrido nenhum dano, já que o governo ainda tem fortes ambições. Serviço militar obrigatório a todos os homens que não estão estudando.

Ao mesmo tempo, sinto que Andrey é saudosista dos tempos soviéticos, ainda que ele tenha crescido nesse novo formato de sociedade. Era notória sua empolgação ao nos mostrar invenções militares russas, mísseis balísticos e etc. Tudo isso ao som de uma música que causava o mesmo efeito que as composições de Wagner aos soldados nazistas...

Bom, 00:00 e Andrey nos leva até a estação de Trem rumo a Moscou.. E hoje termino meu relato por aqui!

Abraços a todos!

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